segunda-feira, 26 de outubro de 2009


De vez em quando temos palestras aqui no Pio-Brasileiro sobre temas diversos. Há algum tempo, um historiador eclesiástico nos deu uma palestra com o tema "os pobres em Roma". Na ocasião, falou da época da Segunda Guerra, quando a cidade estava sobre controle alemão. Nesta época o papa teve um papel tão importante que foi chamado com o antigo título de Defensor da Cidade. Estima-se que cerca de 5.000 judeus tenham sido protegidos e salvos pela Igreja aqui, naquela época, escondidos em colégios, conventos e mosteiros da Igreja. Na foto coloquei a imagem de Nossa Senhora que fica no corredor do segundo andar do Pio-Brasileiro. A placa ao lado dela explica que foi feita como sinal de gratidão por um judeu que ficou escondido aqui, no Pio-Brasileiro. O papel do papa Pio XII em relação ao nazismo é muito debatido e se questiona o silêncio do papa no período, mas, como contraponto, é preciso dizer que a Igreja já tinha soltado um documento oficial com Pio XI (Mit brennender Sorge) condenando o nacional socialismo, documento que foi lido nas igrejas da Alemanha. Por causa disso, contudo, muitos padres sofreram retaliações (prisões, deportações etc.). O papa, então, preferiu a ação silenciosa, com a qual muitas vidas foram salvas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


Depois de um bom tempo sem atualizar o blog, retorno com uma notícia tragicômica. Jogando futebol terça-feira no nosso "Poeirão" (futebol-arte!) aconteceu um pequeno acidente: torci o pé esquerdo num dos milhares buracos do campo. O local inchou e, ontem, fui ao hospital. Raio-x, exame médico a jato (achavam que era só no Brasil?) e aí está: luxação, nada grave, perna enfaixada até quinta-feira que vem, quando retorno ao ortopedista. Até que foi interessante... Enquanto isso vou explorando a boa-vontade dos meus colegas. Dor não sinto quase nenhuma, mas devo ficar mais em repouso, ou seja, estudar com a perna para cima. Esperemos que o futebol do Pio-Brasileiro ganhe em qualidade com a minha ausência (só temporária!).

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Domingo passado fui a uma celebração de canonização na praça São Pedro. A praça estava lotada. Foram canonizados cinco beatos, dentre eles o Pe. Damião (Jozef Damiaan de Veuster), cuja história alguns devem conhecer (ele foi para uma ilha onde viviam apenas leprosos para ajudá-los e, depois de alguns anos, contraiu a doença e faleceu). No Brasil existe um filme sobre a vida dele chamado Molokai. A celebração é simples, uma missa com o coral muito bonito e, num dado momento, são lidas algumas notas biográficas dos beatos. Como um deles é da Igreja Oriental, o evangelho foi cantado primeiro em latim e depois em grego. O papa alterna, na homilia e nas falas, entre os idomas dos referidos beatos, neste caso o polonês, alemão, francês, espanhol e, é claro, o italiano. A maior parte dos presentes eram espanhóis, como as fotos estão a indicar, sobretudo jovens. Alguns deles, em torno de mil, estiveram aqui no Pio-Brasileiro dois dias antes para uma confraternização (arruinaram o já sofrível gramado do nosso campo de futebol, carinhosamente apelidado de "Poeirão"). Na sequência da semana as aulas começaram e o ritmo de vida mudou bastante. Que nos ajudem todos os santos!


domingo, 11 de outubro de 2009

O ano acadêmico começou. Tivemos quarta-feira passada uma fala do decano e na quinta-feira uma missa para abrir, com as luzes do Espírito Santo, o estudo das escrituras. Quanto à fala do decano, além das boas-vindas, fez questão de dar-nos uma explicação. O primeiro ano no Instituto Bíblico (ano propedêutico) que estamos por começar é chamado de "O ano terrível" do instituto (pela sua exigência, está claro). Mas, segundo o decano, isto não é verdade, pois "os outros anos também são todos terríveis...". Quanto à missa, foi uma experiência muito interessante, pois é rezada em diversos idiomas. Vou citar as línguas que apareceram ao menos uma vez na liturgia (numa prece ou canto etc.): Latim, Espanhol, Italiano, Hebraico (leituras), Benin, Grego (leituras), Francês, Malgascia, Inglês, Português, Paleoslavo, Tamil, Coreano, Vietinamita, Polonês. É claro que só o Espírito Santo entendeu tudo, mas a celebração, desta forma, simboliza a diversidade cultural dos alunos no instituto e o fato de que a Escritura, Palavra de Deus em palavra de homens, deve ser levada a todas as gentes nas diferentes línguas e culturas. Quem presidiu foi o cardeal Vanhoye, ex-professor do Instituto Bíblico. Os portugueses escreveram uma prece no nosso belo idioma, mas não apareceram para ler e acabei lendo eu mesmo.



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A visita terminou com a tradicional foto do grupão. Somos mais de 40 padres iniciando estudos de mestrado ou doutorado aqui este ano. Coloquei também um foto dos dois professores-guias num entrosamento perfeito: um fala e o outro gesticula, para economizar energia. Uma observação: quem vier a Roma com tempo deve agendar uma visita à embaixada brasileira (Palazzo Pamphilj). O Brasil comprou o edifício da Família Pamphilj na década de 60 (o governo italiano teria a preferência na compra, pelo valor cultural do complexo, mas não exerceu este direito; dizem que se arrependeu depois). Foi residência do papa Inocêncio X. Tem muitas obras de arte e várias partes foram também projetadas por Bernini. Só uma coisa me irritou nesta ida à embaixada: me disseram que só podia entrar de social e eu fui arrumado, no desconforto. Contudo, apareceu lá um torcedor do Grêmio com a camisa do clube na maior cara-de-pau e entrou sem que ninguém falasse nada. Me senti no Brasil...


Chegamos à Piazza Navona, término da nossa jornada. Dentre as muitas coisas interessantes deste lugar (um dia descreverei a Embaixada Brasileira, que fica aqui e pude visitar) nossos guias destacaram a comunicação existente entre as obras nas fotos. Elas ficam no centro da praça. Numa vemos uma fonte, feita por Bernini e, ao fundo a Igreja de Santa Agnese, feita por Borromini. Acontece que os dois eram contemporâneos e os dois maiores artistas do barroco italiano. Eram rivais... Se prestamos atenção às esculturas da fonte, elas estão virando o rosto (como se dissessem "que coisa feia diante de nós!) ou se protegendo ("isto vai cair!"). Na Igreja, no alto (na foto está pequena, do lado de uma das torres) está uma imagem de Santa Agnese com a mão no peito e olhando para o lado (como se dissesse "estou tranqüila..."). A arte aqui às vezes coloca escandalosamente sua mensagem, às vezes sutilmente.


Continuando a visita guiada, paramos na igreja dos jesuítas, Gesù. Esta é importante porque serviu de modelo para as igrejas dos jesuítas em várias partes do mundo. A fachada é renascentista, mas o interior é barroco. É muito bonita e chama a atenção, sobretudo, o teto.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Passamos pelo Pantheon. Desde que foi construído sempre foi utilizado como local sagrado, primeiro por pagãos, hoje por cristãos. É importantíssimo historicamente porque quase tudo é original e venceu os séculos. No teto, um domo imenso (as paredes laterais têm mais de 6 metros de espessura para poder sustentar o domo!) com uma abertura para entrada de luz e ar. Um detalhe: na antiguidade era todo recoberto de bronze. Quando o papa mandou tirar o bronze para Bernini fazer o baldaquino da Basílica de São Pedro (aparece numa foto antiga do blog) havia tanto metal que, apesar do tamanho do baldaquino, sobrou e o metal foi usado para fazer bolas de canhão do Castelo Sant'Angelo!!!

Aqui vemos as ruínas do Foro Romano. Aqui existiram tribunais e templos. Era o centro da vida romana na antiguidade. O arco em destaque na foto é o Arco de Tito (construído por Domiciano). Antigamente, sem internet, televisão etc., a forma de fazer propaganda dos governantes e ricos era construir monumentos. Este homenageia a vitória militar e saque sobre... Jerusalém! Nele tem detalhes gravados da campanha militar. Coloquei também uma foto da estátua de Rômulo e Remo, supostos fundadores de Roma, mamando na loba que, supostamente, lhes alimentou. Este na foto com a camisa da seleção, por suposto, sou eu...





Em seguida fomos para a Piazza del Campidoglio. No passado, era um dos lugares mais sagrados de Roma; era como o Vaticano dos pagãos. A praça atual foi projetada por Michelângelo de modo a criar a ilusão de que a praça é maior do que é na realidade. Tem aí a estátua de um revolucionário que teve de fugir de Roma vestido de frade e a estátua do imperador Marco Aurélio sobre o cavalo (no centro da praça). Esta estátua foi confundida com a do imperador Constantino, que se converteu ao cristianismo, e por isso mesmo foi conservadaSe soubessem que era de Marco Aurélio, talvez tivessem dado cabo nela, pois este imperador perseguiu os cristãos.


Os nossos professores de italiano eram ambos conhecedores de arte. O Mino fez um curso de arte sacra e bens culturais da Igreja, enquanto a Ângela trabalha numa revista dedicada à arte. Nada mais justo, portanto, que terminar o curso com uma visita guiada pelo centro de Roma. Iniciamos na Piazza Venezia e no Monumento dedicado a Vittorio Emanuele II, marco da unificação da Itália. Aqui tem um tal fogo que nunca deve apagar, cuidado pelos soldados. Esta região é o coração de Roma. A partir daqui pode-se escolher muitos itinerários interessantes. Fui de camisa da seleção brasileira por patriotismo, mas acabei servindo de referência para turistas brasileiros perdidos que, aliviados, encontravam um compatriota lusófono (que fala português!).

domingo, 4 de outubro de 2009

Roma tem suas surpresas. Saindo da Villa Borghese caminhamos a pé sem muito objetivo e vimos esta igreja, Cristo Rei, cuidada pelos padres Deonianos. Perto das igrejas daqui, esta não é muito atraente, nem por fora nem por dentro. Como faltavam poucos minutos para começar a missa resolvemos ficar. De repente, a igreja começou a encher e apareceram 3 ou 4 violonistas acompanhados de um pequeno grupo de crianças e adolescentes, para cantarem na missa. Foi uma celebração animada. Sentimo-nos no Brasil! Em geral, mesmo nas igrejas mais importantes daqui as celebrações não são cheias e praticamente não se canta. A homilia do padre também foi bem no estilo nosso. Uma suposição levantada é que, como se trata de uma comunidade de padres missionários, eles podem conhecer a experiência latino-americana. Outra é que, simplesmente, fazem bem o trabalho de animação pastoral e a comunidade responde com boa vontade. Aqui é assim: nem sempre edifícios bonitos significam comunidade viva, nem sempre edifícios desinteressantes significam comunidades fracas.



Domingo pela manhã resolvemos fazer um programa um pouco diferente. Depois de visitarmos tantos lugares históricos e com monumentos, resolvemos andar a um parque. Esta é a Villa Borghese, um parque muito grande numa área relativamente central da cidade. Roma não é só pedra, metal e concreto. Na realidade, dizem ser, entre as grandes cidades européias, a que tem maior área verde (dois terços da cidade!). É claro que, inevitavelmente, encontramos monumentos no parque e até muitos museus, como o de arte moderna que aparece aí na foto. 4 de outubro é dia de São Francisco (padroeiro da Itália) e nada mais justo do que um dia junto à natureza. O parque é bem bonito e, para nós brasileiros, chama a atenção a vegetação diferente da nossa.








Há indicações de que nestas catacumbas já estiveram presentes, os restos mortais de Pedro e Paulo antes de serem transferidos. Encontram-se muitas inscrições pedindo a intercessão de ambos. Ainda na catacumba, um local de culto, perto de onde havia um local para retirada da terra pelos "coveiros". Foi uma visita muito interessante e enriquecedora.









Para dentro das catacumbas! O clima lá em baixo é mais frio e úmido. Salvo engano, são três níveis de galerias. Inscrições, muitas com símbolos cristãos. Grande parte das tumbas são de crianças, pois a mortalidade infantil era muito alta na época. Coloquei a foto de uma tumba de um pagão, construída para si e os de sua casa (o que incluía os seus escravos). Esta área foi descoberta há 90 anos apenas, pois estava soterrada (em uma dada época pretenderam construir em cima uma praça). Assim, é o original dos primeiros séculos que foi consrvado. Aqui foi o primeiro cemitério a ser chamado de catacumba, tendo a palavra nascido aqui.









As catacumbas de São Sebastião! De fora para dentro. Sobre as catacumbas foi construída uma igreja barroca. Nas fotos se vê o teto (esculpido em madeira), a igreja arrumada para um casamento (aqui também as noivas se atrasam...) e a escultura de São Sebastião, sobre a qual se encontram as suas relíquias. Elas foram "subidas" para a igreja, pois antes ficavam nas catacumbas. Em Roma, dos muitíssimos sítios com catacumbas, só 5 podem ser visitados. Este especificamente é constituído por 12 km de galerias subterrâneas (!!!), mas só são abertos para visitação uns 300 m. O tipo de rocha é macio para escavação e só se endurece em contato com o ar. Encontraram em torno de 100.000 tumbas aqui! Fica fora dos muros de Roma pois, na antiguidade, cristãos e pagãos igualmente só poderiam ser sepultados fora da cidade (lembrando que este últimos, em sua maioria, eram cremados, enquanto os cristãos, por crerem na ressurreição dos mortos, preferiam o sepultamento).










Voltando das catacumbas, encontramos esta igreja conhecida como quo vadis? , ou seja, onde vais. Uma tradição conta que Pedro estava fugindo de Roma, por causa da perseguição (fica já fora dos muros da cidade), e teve uma visão de Jesus indo no sentido contrário, ou seja, em direção à Roma. Pedro teria perguntado: Domine, quo vadis? , e Jesus respondeu que ia a Roma morrer mais uma vez em seu lugar. Pedro, então, retorna à cidade e recebe o martírio, de cruz. Atualmente a igreja está fechada por causa dos trabalhos de restauração.
Próximo à Basílica há um local onde fica a escada santa, supostamente trazida do palácio de Poncio Pilatos, escada onde Jesus teria passado para ser condenado. Só é permitido subir de joelhos. Ao lado da escada duas esculturas: uma de Jesus chorando, com a inscrição "seja feita a tua vontade, não a minha" e outra de Judas dando em Jesus o beijo com o qual o traiu.





Assim que terminamos o curso de italiano com o exame final partimos para novas visitas Roma afora (já não aguentávamos ficar em casa estudando...). Fomos às catacumbas fora da cidade (depois posto algo sobre elas) e, na volta, passamos pela Basílica de Latrão, que é fabulosa. Dentro há estátuas imensas dos apóstolos. Cada capela lateral tem uma beleza ímpar. Coloquei aqui uma foto do teto da igreja porque, muitas vezes, as melhores obras de arte estão justamente no teto das igrejas e são sempre espetaculares. Aí vai também uma foto do baldaquino e altar.