sexta-feira, 22 de janeiro de 2010












Com o Santuário da Madonna dei Lattani encerramos estas crônicas de Roccamonfina. Na cidade esxiste este mosteiro de monges franciscanos (foto) que tive o prazer de conhecer. Foi fundado neste local no século XV por São Bernardino de Sena e um outro seu companheiro por causa de um fato especial. Um pastor que cuidava de suas ovelhas encontrou escondida em uma gruta uma imagem antiga de Nossa Senhora esculpida em um bloco único de pedra (pesa 250 kilos!). Alguns séculos antes, quando aconteceu na cristandade a polêmica iconoclasta (queriam destruir todas as imagens por acreditarem que ofendiam aos mandamentos etc.), alguns cristãos tentaram salvar algumas delas escondendo-as. Eis que São Bernardino funda o mosteiro e, depois, santuário em homenagem à Nossa Senhora onde a imagem foi encontrada. A devoção à Madonna dei Lattani é grande na região e a cada dois anos levam a imagem em visitação às paróquias do entorno. Nas fotos o local onde foi encontrada e a representação da cena do achado do pastor. Coloquei também a foto do pé de castanha plantado por São Bernardino. A árvore é já morta, mas os monges a conservam com cuidado. Coloquei também a foto de uma pequena apresentação de um grupo Gospel que aconteceu no interior do Santuário. Veio até uma cantora de Los Angeles importante no mundo gospel. Infelizmente a luz caiu no final do concerto, quando estavam fechando com Oh happy day! e percebemos que falta faz um microfone também para o pessoal gospel...



quinta-feira, 14 de janeiro de 2010





A Mesa italiana, lugar apreciado, onde se come bem e se fala de tudo. Contudo, como acontece no Brasil, a comida varia muito entre as regiões do país. Em Roma, por exemplo, a pasta normalmente vem simplesmente com o molho de tomate, enquanto em Roccamonfina o modo de preparar é bem variado. No primeiro dia, um choque: almoço festivo com os monges franciscanos, dois tipos de polvo (blergh), dois tipos de ostra (blergh), dois tipos de peixe e dois tipos de camarão. Como se não bastasse, no jantar, em casa, voltaram os polvos e peixes... É que Roccamonfina, muito embora fique no alto de uma montanha, é perto do mar. Além disso, os legumes e verduras são diferentes dos nossos. Resumindo, comecei a comer sem peguntar o que era, assim evitei fazer desfeita. Depois, porém, acostumei-me com o sabor dos alimentos e acabei gostando. Nestes dias de Festas as refeições são mais longas, ficávamos quase hora e meia à mesa. Coloquei uma foto minha com Don Domenico na cozinha, onde ficava a lareira e podíamos fugir do frio. Também uma foto da sua família, que mora em uma cidadezinha aos pés do Vesúvio (Marigliano), com quem almocei no Natal e no Ano Novo. Ali o dialeto já é um pouco diferente do de Roccamonfina (oh céus!). Tem também uma foto do pessoal da paróquia atacando uma pizza. Também a pizza daqui é diferente da romana e me agradou mais. lembra mais a nossa, com uma massa menos seca e mais recheada que a pizza de Roma. O vinho à mesa é obrigatório e, nesta época, as sobremesas sempre aparecem em maior variedade. Enfim, pude comer algumas frutas nossas como o abacate, banana etc. que, aqui, chamam genericamente de frutas exóticas. Mal perceberam eles que, do meu ponto de vista, tudo que comi aqui exótico.

sábado, 9 de janeiro de 2010
















Pude ver a neve ao vivo pela primeira vez em Roccamonfina. Muito embora a maior parte dos dias tenha sido de neblina ou chuva, depois do ano novo ela veio por algumas horas. Começou muito fraca, derretendo logo no contato com o solo, mais quente. Depois ganhou força e chegou a colorir um pouco a cidade, antes de tornar-se chuva. Foi mesmo só para fazer graça para brasileiro... As fotos são das ruas adjacentes à casa paroquial. Coloquei também a foto de uma bruxa que, aqui na Itália, se chama Befana. Ela é a correspondente do Papai Noel, só que vem na Epifania (Befana é tradução errada de Epifania!). Como o povo brasileiro tem a Festa de Folia de Reis, eles têm a Befana. Algumas mulheres se vestem de bruxa e distribuem doces para as crianças (as que se comportaram bem, senão ganham carvão...) e até brinquedos. Aqui em Roma a Befana deixou uns docinhos para nós, mas deve ter-se distraído... Também nas casas costuma-se fazer uma sobremesa mais caprichada e as pessoas se visitam. Como acontece no Natal com o Papai Noel (Babo Natale), a Befana, muito embora seja uma tradição bonita, acaba sobrepondo-se ao sentido cristão da Festa da Epifania. Pelo menos esta bruxa é boa e também visita os padres.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010






















A Paróquia de Santa Maria Maggiore, onde trabalhei, é bastante frequentada. A Igreja é bem grande. Como expliquei antes, a parte mais importante do meu trabalho lá foi o atendimento de confissões, sendo que também os jovens e crianças procuram muito o sacramento. Nos domingos e dias de festa ficava de plantão (+- por 5 horas) para as confissões. Apesar do grande número de atendimentos, são geralmente muito rápidos, pois o italiano é muito objetivo na confissão, não faz rodeios e não fica contando pecados de outrem, como comumente acontece no Brasil. O atual pároco (foto) é Don Domenico, já com 80 anos, e precisava mesmo de uma mão. É já um velhinho muito gentil e querido pela população, pois trabalhou ali a vida inteira. O Natal é celebrado com solenidade, como no Brasil, montam o presépio dentro da Igreja e, este ano, os jovens prepararam um pequeno teatro do nascimento de Jesus. Apesar disso, a pastoral aqui é muito centrada nos sacramentos e depende demais da presença do padre, uma mentalidade que, comparada com a nossa prática no Brasil, está atrasada. Coloquei também a foto de um coral formado só por moças, o único da paróquia. Cantam bem, fazem trabalho de coral mesmo. O revés é que o povo não canta e o coral acaba executando as músicas sozinho. Não é demérito do coral, o povo não canta nunca... A imagem de Nossa Senhora na foto é do século XVIII e foi restaurada recentemente por um preço alto. Acaba que o patrimônio histórico das Igrejas italianas, ainda que seja um orgulho e importante para os fiéis, já que expressa a devoção das pessoas, torna-se hoje um peso para uma Igreja que não dispõe de muitos recursos para sua manutenção. Senti-me bem acolhido pela população e espero poder voltar lá um dia.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010





Natal em Roccamonfina: retornei são e salvo, achando Roma uma cidade bem quente, pois a pequena Roccamonfina, no alto de uma montanha, tem um inverno mais rigoroso. De fato, quase todo dia, pela manhã, uma neblina, acompanhada ou não de chuva, tomava conta do lugar. A neve veio só um dia, e dela falarei em outro capítulo. Esta pequena cidade fica ao Sul, antes de Nápoles. Fica, perto do mar, o que tem uma influência grande na alimentação, que explicarei depois. Aqui, no âmbito familiar, as pessoas falam um dialeto napolitano. Explicando melhor: o antigo latim vulgar, falado no império romano, deu origem a um sem número de dialetos, sendo alguns "promovidos" a língua, como o português e o italiano, que era antes dialeto fiorentino. Assim, se alguém anda no interior da Itália, pode encontrar em duas cidades vizinhas, dois dialetos diferentes. A diversidade é muito grande e, em muitos lugares, o italiano só se difundiu depois da invenção da televisão. De certo modo, para muitos habitantes do interior, o italiano é uma segunda língua, às vezes pouco apreciada, como me confessou (não sacramentalmente!) a nossa cozinheira. Resumindo, dentro de casa escutavo dialeto, mas falavam comigo em italiano. Em todo caso, tive sorte porque o dialeto meridional de Roccamonfina não é muito distante do italiano: basta cortar a última sílaba na pronúncia das palavras (como fazem os franceses), o que infelizmente provoca mudanças de acento nas palavras, pronunciar o "s" como "x" em alguns encontros consonantais (st, sb, sp...) e usar a segunda pessoa do plural no lugar da segunda ou terceira singular (tratamento formal). Acontece, porém, de terem vocabulario próprio e, às vezes, têm dificuldade de lembrar a palavra correspondente em italiano! A cidade depende economicamente da produção de castanhas, sendo que em três meses trabalham pesado esperando que seja suficiente para todo o ano. Quando a colheita não é boa, como este ano, a população passa aperto. Além disso, sofrem concorrência dos japoneses, que produzem uma castanha maior. Na foto panorâmica da cidade pode-se ver as plantações de castanha nas encostas. O que fui fazer lá? Na Igreja da Itália se fala das Natalinas e das Pascoalinas, dias que antecedem às duas festas mais importantes do ano litúrgico. Nestas épocas os padres precisam de ajuda para as confissões, pois o povo católico procura em peso este sacramento. Assim, foram quinze dias (24 dezembro-6 de janeiro) escutando confissões. Coloquei uma foto da praça da cidade e uma foto de um parque.