domingo, 31 de outubro de 2010











O primeiro lugar que fomos visitar na Galiléia foi Seforis (Zippori), um sítio arqueológico importante para reconstruir a história desta região na época de Cristo. É uma hipótese plausível sustentada por muitos estudiosos hoje que, devido à proximidade com Nazaré, Jesus e José, trabalhadores manuais, devem ter trabalhado aqui na reconstrução da cidade. A população que habitava aqui era mista, com uma predominância de judeus, mas convivendo bem com pagãos. Na realidade, o que se aprende a partir de vários indícios, tais como os mosaicos aqui encontrados, é que os judeus acolheram de modo criativo muitos elementos da cultura greco-romana. Por exemplo, na foto podemos ver um mosaico do zodíaco que se encontra na sinagoga da cidade (!), parte de um grande mosaico com diversos temas bíblicos. A população convivia tão bem com elementos pagãos que recusou-se a participar da revolta contra Roma na década de 60 da nossa era. Na foto pode-se ver uma pequena fortaleza, ponto de observação dos soldados de então que os permitia controlar uma vasta região em torno. Encontram-se gravados nas pedras do chão alguns jogos que os pagãos costumavam fazer, mais um dado que indica o caráter misto da população. A Palestina daquela época era um caldeirão fervente onde encontravam-se setores coniventes com a dominação romana e setores resistentes à mesma, com diferentes modos de resistir. Alguns destes, numa postura mais agressiva, atacavam inclusive os irmãos judeus coniventes. De fato, a cidade foi atacada pelos próprios judeus numa malfadada revolta contra Roma no século II. A história desta terra contém desde as coisas mais belas e santas até ondas incríveis de violência. Pena que ainda não aprendemos o suficiente a partir dos erros dos antepassados.

domingo, 24 de outubro de 2010











Durante a visita à Galiléia fomos ao Monte Tabor, lugar onde a tradição afirma ter ocorrido a Transfiguração do Senhor. Lá existe uma Basílica sob a cura dos franciscanos dedicada à Transfiguração. Lá do alto temos uma vista privilegiada da região. Celebramos missa lá, no interior de uma das capelas laterais, a que é dedicada a Elias (a outra é dedicada a Moisés, os dois personagens do Antigo Testamento com os quais Jesus teria se encontrado durante a Transfiguração). Nem sempre é possível ligar os lugares que visitamos aos fatos que se alega terem ocorrido ali. Muitas vezes os indícios documentais e arqueológicos são insuficientes. Não obstante, em cada uma destas visitas somos levados a recordar algum aspecto da nossa fé, somos convidados a refletir sobre a nossa própria vida e espiritualidade. É assim que geografia vira prece, arqueologia vira teologia e história vira espiritualidade.

domingo, 17 de outubro de 2010












Na nossa viagem à Galiléia fomos à Cesaréia Marítima, lugar fantástico. Aqui estão as ruínas de algumas das obras mais importantes de Herodes, o Grande. O nome da cidade foi dado obviamente em homenagem ao imperador romano. Herodes projetou e supervisionou a construção de várias estruturas aqui, através das quais se pode dizer que ele era muito atualizado em relação às técnicas de construção da época. Apesar das dificuldades da geografia do lugar, construíu um grande porto. Hoje já não existe mais, mas as estruturas estão debaixo d´água e são estudadas por um ramo novo da arqueologia subaquática. Fez vir água potável de muito longe para a população da cidade. Construíu também um palácio à beira do mar mediterrâneo (foto), com uma piscina preenchida naturalmente com água do mar (!), um grande anfiteatro e uma arena para corrida de cavalos (foto). Na cidade havia também uma casa de banhos (foto) com várias opções, água fria, água quente etc. Historicamente Herodes é tido como um sujeito obcecado com o poder, tendo mandado matar esposas e filhos dos quais suspeitou alguma traição. Dizia-se que era melhor ser o porco de Herodes que ser um de seus filhos (seguindo as tradições judaicas, não comia carne de porco...). Sabe-se, contudo, que foi muito hábil em conquistar o favor das autoridades romanas e foi um grande empreendedor. Na primeira foto apresento um dos membros do nosso grupo de estudantes do Bíblico aqui em Israel. Iaroslav é um ucraniano maluco que tem feito nossos itinerários aqui mais divertidos com suas bobagens. É bom estudar e aprender coisas novas junto com amigos.

domingo, 10 de outubro de 2010











Semana passada fizemos um tour pela Galiléia, quando tivemos a oportunidade de visitar diversos lugares interessantes e receber grande quantidade de informações históricas e arqueológicas. Um dos lugares mais interessantes foi Cafarnaum, que nos evangelhos é uma espécie de centro, quartel-general das atividades de Jesus pela Galiléia. Fica às margens do lago da Galiléia (foto), em cujas águas tranqüilas Jesus navegou com os apóstolos. A população da cidade desapareceu ao longo da história, mas permaneceram aqui os restos arqueológicos do vilarejo. Apesar de pequena, Cafarnaum possuía uma grande sinagoga já no tempo de Jesus, a qual foi posteriormente ampliada (foto). Discute-se o porquê desta sinagoga especial num lugar tão marginal como Cafarnaum. Aqui encontra-se também o que tradicionalmente é conhecido como a casa de Pedro, ou da sogra de Pedro (foto). Sobre esta ruína foi construída uma igreja onde os peregrinos reúnem-se para celebrar a Eucaristia. Caminhar nestes lugares onde começou a história da fé cristã e relembrar aqui os relatos bíblicos provocou-me uma sensação especial, algo como uma maior cumplicidade com o Galileu e seus amigos.

sábado, 2 de outubro de 2010







Comecei uma nova etapa no meu caminho: Jerusalém. A chegada foi tranquila, não tivemos problemas no aeroporto em Tel Aviv. O clima aqui no verão é seco e quente, mas suportável. A comida aqui em casa é boa e me surpreendeu positivamente. Aqui come-se carne com mais frequência que em Roma. Moro na casa do Pontificio Instituto Bíblico, que é muito bem localizada na cidade. A primeira foto, por exemplo, é da vista do meu quarto, de frente para as muralhas da cidade antiga, cujo acesso, pelo portão de Iaffa, está a 5 minutos de caminhada. A cidade é monocromática: para todo lado se vê sempre as construções cor de areia. Ao mesmo tempo, como conjunto, a vista da cidade é impactante. Caminhei um pouco pelas ruas estreitas da cidade antiga e, apesar das muitas igrejas e monumentos para se visitar, o que me chamou mais a atenção do primeiro momento foi a paisagem humana. Judeus, cristãos e muçulmanos nesta mistura bela e complicada. Além disso, assusta o grande número de policiais e soldados espalhados pela cidade, os pontos de controle e checagem com detector de metais etc. Já nos primeiros dias, tive a oportunidade de celebrar a missa com o grupo do Bíblico na Igreja do Santo Sepulcro, experiência bonita (mas um pouco atrapalhada, pois foi apenas a segunda vez que celebro em inglês). Enquanto não começam os estudos, aproveito para observar e meditar esta cidade.